LAGOA MUNDAÚ

Lagoa Mundaú
(26 de fevereiro de 2019)

Sempre pesquei na Lagoa Mundaú, em seu trecho final, no Pontal da Barra. Digo final, mas de fato, não sei se ali é o início, já que a lagoa é alimentada pela água do oceano também, nas marés cheias.
Comecei a pescar ainda menino, no trecho que passa pelo Brejal, quando nem se sonhava em fazer o dique-estrada. Naquele tempo a lagoa ainda era saudável, embora já houvesse indícios de poluição naquele local. Depois, descobrimos a pesca no bairro do Pontal da Barra, no tempo em que tal bairro era apenas uma vila de pescadores e algumas pessoas que viviam do artesanato que hoje se proliferou como maior fonte de renda do bairro, além da exploração turística com passeios aquáticos e os restaurantes servindo o melhor da culinária alagoana.
Comecei pescando no local da foto quando ainda funcionava ali perto o Campus Tamandaré, uma extensão da UFAL, com alguns cursos, principalmente o de Biologia. Depois, passou a ser sede do Detran e da Secretaria de Segurança Pública, quando passou a ser proibido o acesso a estranhos, excetos para aqueles que portavam uma autorização. Nem precisa dizer que eu obtive essa autorização, pois, por capricho da álea, quando era bancário, fui encarregado de fazer um cadastro de um delegado da Polícia Civil. Ao ver que ele era responsável por uma delegacia, lá no Pontal, comentei, "despretensiosamente" de minha intenção de adquirir a tal autorização. Dois dias depois ela estava em minha mesa. Plastifiquei-a e já andava junto da tralha. Depois, renovei a autorização com o então Cel. Bugarin, a quem dediquei outra crônica recentemente, quando ainda era major.
Hoje, por conta da reintegração de posse da área pela Marinha, não se tem acesso de carro, só pela praia ou pela lagoa mesmo.
Já fazia alguns anos que não ia ao ponto de pesca que costumava ir com meus irmãos e papai. Porém, no último sábado, tomamos (eu e Virgilio Mendonça, um irmão de fé e amigo) uma jangada no bairro do Pontal, com iscas vivas e descemos até um local que chamava de "bueira", tudo diferente do que era antes, sobretudo pelo mangue que tomou conta das pedras rachão que foram ali lançadas para funcionarem como pequeno dique, ainda no tempo do NECIMAR (Núcleo de Estudos de Ciências Marinhas).
Depois que caminhamos um pouquinho entre as árvores de mangue fechado, parei em um local e, como fotografia, veio em minha mente a visão que tinha outrora. Podia até ver papai, mas à frente com uma varinha de caniço na mão, com uma camisa velha de mangas compridas e uma calça social com as pernas arregaçadas, portando ao ombro um "borná" marrom de Napa, costurado por ele mesmo em sua banquinha de sapateiro. Podia ver Silas Amancio, Rubem Amancio da Silva e Paulinho (André ainda era garoto, só começou depois) que se distanciavam um pouco mais na "ponta do cais", esperando fisgarem uma vermelha graúda ou um camurim, no remanso formado pela correnteza e as pedras do cais. Os canoeiros que passavam agora, por certo não eram os mesmos do passado. Mas o traçado que a canoa fazia era o mesmo. Era como se houvesse um pista imaginária mostrando o caminho certo, como se o avô passou para o pai e este para o filho a rota certeira.
A pesca nesse dia não foi tão boa, mas essas lembranças me trouxeram uma saudade boa. Senti-me feliz ali. Comentei com Virgilio sobre isso e até lembrei algumas frases ditas por papai, sempre repetidas por ele enquanto pescava.
A jangada chegou para nos levar de volta e, no caminho, subindo a maré, no meu íntimo agradeci a Deus por ter vivido tudo isso.
Vou retornar mais vezes àquele pesqueiro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Simples assim

"Frau"

RUA GENERAL HERMES, 874