Professor Julio
Marcos e Matheus estudaram no antigo e extinto Colégio Batista, quando crianças. Lá, tiveram oportunidade de fazer alguns esportes, dentre eles, fizeram judô. O professor era um argentino chamado Julio (pronuncia-se com som de r como quase todo j no espanhol). O prof. Julio era um "gigante". Era enorme. Mas era muito amável com as crianças.
Certo dia, houve um campeonato no CBA e, nesse dia, iria haver uma apresentação das crianças menores, ainda na escolinha do judô. Foi uma tarde bastante agradável principalmente para os pais que ali estavam com suas câmeras registrando tudo. Antes das competições, foram colocadas as crianças para "lutarem" entre si. Claro que era mais uma simulação do que uma luta mesmo, embora elas estivessem levando a sério.
Lembro-me que Matheus estava bastante ansioso para "estrear" no tatame, principalmente porque sabia que havia uma "torcida" na arquibancada. Depois de algumas lutas/apresentações, chegou a vez de Matheus enfrentar seu adversário. Parecia ser um garoto mais velho e bem mais forte do que ele. Ao começar a luta, depois de alguns passos o garoto conseguiu encaixar um golpe perfeito e fez um "ippon", jogando Matheus no tatame. Na queda, meu filho machucou o pé e se levantou mancando e quase não teve condições de saudar seu rival, encerrando o combate, como é praxe no judô. Vi, de longe que as lágrimas vieram ao rosto e ele saiu mancando todo sem jeito para um canto na quadra e ficou sozinho, com a cara enfiada no joelho com os braços cruzados. Desci da arquibancada e quis entrar para tentar consolar meu filho. Fui impedido por alguém que estava controlando a entrada (a ordem era que só podia entrar atleta). Pedi então que ele chamasse o prof. Julio que estava perto. Quando Julio chegou, eu lhe disse que Matheus havia machucado o pé e se ele permitia que eu entrasse para ir lá dá uma força. Ele olhou para Matheus. Voltou-se para mim e disse num espanhol meio misturado com português: "Deixe ele só um pouco... ele vai superar". Fiquei ansioso, mas senti muita firmeza na voz do mestre. Fiquei olhando para Matheus o tempo todo que não vi sequer a apresentação do outro filho Marcos que também estava na quadra. Passados alguns instantes, vi que Julio foi onde estava Matheus e conversou alguma coisa com ele. Não deu pra ouvir o quê, mas pelo jeito foi algo do tipo "levanta, rapaz, você vai ficar abatido na primeira derrota? Vai lá, entra na fila e vai lutar de novo". Matheus se levantou meio tímido, parecendo um pontinho diante da estatura de Julio. Foi para o fim da fila. Eu e Cilene na torcida preocupados com o que poderia acontecer. Chegada a vez de Matheus, ele entrou no tatame e começou a luta com seu adversário. A luta foi se desenrolando e parecia que havia uma igualdade entre os competidores. De repente, Matheus segura com força a gola do kimono de seu contendente e, com muita técnica e rapidez, o lança no chão num perfeito ippon. Ao jogar o colega no tatame, ele levanta a cabeça e olha pra gente na arquibancada fazendo um gesto de vibração com o punho direito cerrado. Saudou o adversário e correu para receber nosso abraço em meio a lágrimas.
Como disse, a luta não era bem uma competição, a medalha foi mais pela participação do que pela vitória. Mas, naquela tarde, Matheus aprendeu que, mesmo que a gente seja abatido algumas vezes, sempre surgirá uma oportunidade de se dar a volta por cima e seguir adiante.
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