Sulamita

Sulamita

Não lembro em que momento ou circunstância passei a conhecer a Sula. Só lembro que em um determinado dia, a família Correia veio de Palmeira dos Índios e passou a morar em Maceió. A partir de então, como frequentávamos a mesma igreja, logo fiz amizade com todos: Sula, Sueli, Jairo, Júnior, Itinho e Jatiniel, esses dois últimos ainda bem crianças, à época.
Sula era uma adolescente esguia, bastante  atraente, encantadora e muito comunicativa. Fazia amizade com muita facilidade. Alguns anos mais tarde, começou a namorar com o amigo Márcio Melânia que era dos garotos o mais calado, mas tinha seus encantos. Era inteligente, com jeito de intelectual, boa formação cristã, charmoso e fiel às amizades, qualidades que se mantêm até hoje. Não era o mais bonito, mas "desenrolou" e conquistou a garota.
Casaram ainda novos e mantêm essa união há muito anos. Criaram filhos, superaram crises, servindo de exemplos a mim e a outros que convivem de perto.
Admiro-os pelo que representam para mim, como casal e como amigos que são individualmente.
Certa ocasião, viajamos para João Pessoa, para passarmos um feriadão na casa de um casal amigo que havia se mudado para aquela capital. Era um grupo de 8 a 10 pessoas e a viagem foi muito divertida e agradável. Numa certa manhã, fomos a Cabedelo, uma das belas praias paraibanas. Lá, resolvemos atravessar o canal de barco, em direção a uma ilha que, segundo informações, era onde no passado havia extração do óleo da baleia, quando esse tipo de pesca era permitida. O local era muito primitivo. Lembro-me de que os barcos que faziam a travessia eram bastante precários e antigos. Mas aparentemente eram seguros e os "marinheiros" pareciam ser experientes. De toda forma, alguns ficaram temerosos em fazer a viagem. Sula, de pronto, disse que não ia. Mas, de tanta insistência do grupo, resolveu ir. Entramos no barquinho descendo uma rampa de madeira que oscilava a inclinação ao sabor da maré. Nesse dia a maré estava baixa, porém com bastante agitação. Ao entrarmos no barco, percebemos que o balanço das ondas fazia ele subir e descer constantemente. Eu e Silas (meu irmão), como sempre, começamos a causar pavor nos passageiros. Silas olhava pra mim, piscava o olho e dizia: "rapaz, sei não mas essas ondas..." Eu completava: "E a água já está a um palmo da janela, olhem". Sula ficava assustada, com os olhos "arregalados" e dizia: "Marcinho, vamos ficar. A gente é muito novo ainda..." Márcio tentava contornar e dizia: "fique calma Sula, tá tudo bem, não vai ter problema". Nisso, outros passageiros começaram a vir para o barquinho. Desciam com sacos de feira, bicicletas e até motos começaram a vir para o barquinhos. A essa altura até eu fiquei temeroso, porque o barco estava realmente muito carregado. Olhei para baixo e vi que havia algumas tábuas entreabertas que davam para ver que tinha algo embaixo. Eu disse "Ô Silas, e esse buraco aí embaixo é o quê?"
Sula levantou-se e ficou  assustada mais ainda. Um rapaz que trabalhava no barco se virou para mim e, levantando uma das tábuas, disse: "é o motor do barco". Quando ele levantou a tábua, deu para ver um pouco de água na parte de baixo. Isso foi o suficiente para Sula gritar: "Meu Deus, não vou não, não vou não! Vamos Marcinho". Márcio falou: "Sula, a gente pagou já... Se você não for, eu vou, você fica aí" Sula  pegou a bolsa que estava no colo do Márcio e saiu do barco correndo. Ficou um clima meio chato, uns pedindo para ela voltar, outros dizendo para Márcio ficar com ela no porto. Nesse momento, ela deu meia volta na rampa e desceu às pressas, porque o barqueiro já havia dado partida no motor. Sula volta e na entrada da cabine onde estavamos sentado ela declara aos gritos: "Marcinho, que Deus nos livre, mas se acontecer qualquer coisa, saiba que eu sempre lhe amei!" Deu meia volta e subiu correndo a rampa. Todos aplaudiram aquela declaração de amor "titanítica". Marcinho encheu os  olhos de lágrimas, mas foi com a gente para ilha.
Fomos e voltamos e, graças a Deus, não aconteceu nada e eles vivem felizes para sempre.
Parabéns Sula, por ser grande amiga, por seu aniversário.