Vitória, a maestrina

Sou muito grato a Deus pela vida da maestrina Maria das Vitórias. Foi ela quem me iniciou na regência. 
Uma noite, depois de um longo período afastado da igreja, depois de um Natal em que o Coral Louvor Jovem apresentou pela primeira vez a cantata Reis dos Reis, fui ao ensaio do coro. Cheguei todo desconfiado, sentei lá atrás, fiquei só olhando. Vitória distribuiu as cópias com os coristas. Olhou para mim, como se eu sempre estivesse ali. Abriu um sorriso e só perguntou: "tenor ou baixo?" Eu, timidamente, respondi que era tenor. Fui muito bem recebido pelos tenores. Mas,  ainda nesse ensaio, vi que minha voz havia mudado e preferi ficar no baixo (na verdade, sou barítono, que é a voz intermediária, mas que se sente mais confortável no naipe mais grave). Eu era muito novo e irreverente, mas com um pouco de conhecimento de música. Vitória,  percebendo isso, sempre me entregava uma partitura, em vez de uma simples cópia só com a letra. Passava uma, duas vezes com a flauta doce, e dizia: "vão com Albertinho pra outra sala para ensaiarem o baixo". Depois, a gente voltava e juntávamos as vozes.  Depois de  um certo tempo, Vitória chegou no ensaio e disse que iria colocar algumas pessoas para regerem também. Olhou pra mim e perguntou: "Que hino você quer ensaiar hoje?" Eu tremi. Fiquei sem saber o que dizer. Depois, do nada, eu disse: "Doxologia". Ela, prontamente, abriu a pasta no hino e disse: "pode vir". Soprou na flautinha as notas de cada voz e sentou no banco dos sopranos. Eu gelei...
Procurando imitá-la, levantei as mãos e dei a entrada para os coristas: 
"Glória a Deus Jeová, lá nos altos céus..."
Parecia que estava voando pela primeira vez, os acordes sincronizavam com o meu vôo. As mãos pareciam tocar um instrumento imaginário. O hino foi se encaminhando para o fim e eu, como um piloto que tentava pela primeira vez colocar a aeronave no chão, conduzia o coro ao "eternamente... Amém, Amém."
Terminei em lágrimas e naquele dia Deus me mostrou claramente que ele queria me usar em sua obra como maestro do coro. Vitória foi minha mentora, me proporcionou muitos ensinamentos na música. Tenho muito a agradecer-lhe e ainda a aprender com seu exemplo de mulher forte, guerreira, valente, de fé e coragem. Fez jus ao nome que teve. Provavelmente, pelo que conheço dela, já está dando os primeiros acordes no coro celestial.

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