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Vitória, a maestrina

Sou muito grato a Deus pela vida da maestrina Maria das Vitórias. Foi ela quem me iniciou na regência.  Uma noite, depois de um longo período afastado da igreja, depois de um Natal em que o Coral Louvor Jovem apresentou pela primeira vez a cantata Reis dos Reis, fui ao ensaio do coro. Cheguei todo desconfiado, sentei lá atrás, fiquei só olhando. Vitória distribuiu as cópias com os coristas. Olhou para mim, como se eu sempre estivesse ali. Abriu um sorriso e só perguntou: "tenor ou baixo?" Eu, timidamente, respondi que era tenor. Fui muito bem recebido pelos tenores. Mas,  ainda nesse ensaio, vi que minha voz havia mudado e preferi ficar no baixo (na verdade, sou barítono, que é a voz intermediária, mas que se sente mais confortável no naipe mais grave). Eu era muito novo e irreverente, mas com um pouco de conhecimento de música. Vitória,  percebendo isso, sempre me entregava uma partitura, em vez de uma simples cópia só com a letra. Passava uma, duas vezes com a flauta do...

"Frau"

"Frau"  Um amigo, Fernando, para ajudar a superar a crise do Covid-19, resolveu, juntamente com a esposa,  vender flau gourmet. Para quem não é da região, flau é o mesmo que sacolé, din-din, chupe-chupe. Só que os deles são diferenciados e deliciosos.  Pois bem, à porta de um condomínio para fazer a entrega de um pedido, o amigo apresentou-se ao porteiro para que ele entrasse em contato com a cliente no apartamento. - Diga que é o Fernando dos flaus. O porteiro, olhou tentando entender direito, achando que a expressão "dos flaus" se tratasse de um sobrenome (talvez, francês ou alemão, sei lá) e perguntou: - Fernando de quê mesmo? - já com uma caneta na mão. - Fernando, Fernando dos flaus gourmet, ela está aguardando, falei aqui com ela no WhatsApp. Se já estava complicado, agora é que ficou brabo mesmo, com o "gourmet"... - Como se escreve esse nome? - perguntou o porteiro. Fernando, percebendo a dificuldade do porteiro, explicou fazendo gestos: - Não, não...

Simples assim

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Simples assim Depois disso, quero viver coisas simples. Quero sentar na areia da praia e, sem ter pressa, ficar lá por horas. Quero tocar na areia com minhas mãos, como se estivesse procurando não-sei-o-quê, só para vê-la escorrer entre meus dedos, sem achar nada. Quero olhar para o horizonte como se procurasse... nada.  Contar quantas gaivotas revoam um barquinho ancorado e outro que está mais a frente, ambos jogando ao sabor das pequenas ondas daquela tarde quente de verão.  Quero ver o pôr do sol. Não sei de onde, mas quero. Quero me emocionar com as cores que variam do laranja para o âmbar e daí para incontáveis tonalidades de vermelho. Quero fixar o olhar no meio arco solar morrendo na linha infinita do horizonte, sem mesmo imaginar que o verei na manhã seguinte sobre minha cabeça. Desviarei vagarosamente meu olhar para a outra extremidade do céu, na perspectiva alvissareira de ver as primeiras fagulhas de estrelas piscarem no céu. Quero dar as boas vindas às Três-marias,...

DIÁLOGO

Diálogo (Maio/2018) Jeniffer Ariston, protagonista do filme Dizem por aí... (Humor has It) em um diálogo com seu pai: - Pai, por que nós somos tão diferentes? Eu dirijo como uma louca e o senhor dirige tão devagar... O pai respondeu, com ternura: - Filha, eu só dirijo devagar quando você está no carro. Fiquei pensando na profundidade da resposta, o quanto ela encerra o amor, o carinho e proteção paterna. Nesse momento, entrou no quarto Milleny, minha filha, de quase 12 anos. Achei interessante compartilhar com ela a cena recém vista, enfatizando o sentimento que o pai tem em relação a uma filha. Ela, parou por um instante, talvez tenha refletido um pouco e logo em seguida disparou: - Não esqueça de comprar meu livro paradidático. E saiu.

Sulamita

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Sulamita Não lembro em que momento ou circunstância passei a conhecer a Sula. Só lembro que em um determinado dia, a família Correia veio de Palmeira dos Índios e passou a morar em Maceió. A partir de então, como frequentávamos a mesma igreja, logo fiz amizade com todos: Sula, Sueli, Jairo, Júnior, Itinho e Jatiniel, esses dois últimos ainda bem crianças, à época. Sula era uma adolescente esguia, bastante  atraente, encantadora e muito comunicativa. Fazia amizade com muita facilidade. Alguns anos mais tarde, começou a namorar com o amigo Márcio Melânia que era dos garotos o mais calado, mas tinha seus encantos. Era inteligente, com jeito de intelectual, boa formação cristã, charmoso e fiel às amizades, qualidades que se mantêm até hoje. Não era o mais bonito, mas "desenrolou" e conquistou a garota. Casaram ainda novos e mantêm essa união há muito anos. Criaram filhos, superaram crises, servindo de exemplos a mim e a outros que convivem de perto. Admiro-os pelo que r...

OS MISERÁVEIS

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Os Miseráveis Vai aqui mais um "causo" contado por meu velho pai. Na verdade, uma anedota, só que, por ele, virava uma verdadeira estória: Dois "cumpades" estavam trabalhando fazendo uma roça. Um deles bateu com ema enxada em algo bastante duro. Depois que retirou da terra, percebeu que era uma lâmpada (tipo Aladim). O outro disse assim: - Cumpade, será que tem um gênio aí dentro, vamos esfregar pra ver se sai alguma coisa. Depois de algumas esfregadas, a lâmpada se acendeu e saiu um gênio de dentro dela. O gênio falou: - Vocês me libertaram dessa lâmpada na qual estive preso por milhares de ano. Agora  posso realizar qualquer desejo de vocês. Só que, como são dois, o primeiro que fizer o pedido vai fazer com que o segundo ganhe em dobro tudo que o primeiro pediu. O cumpade que havia achado a lâmpada, se virou pro outro cumpade disse: - Cumpade, peça o sinhô primeiro. O outro retrucou: - Que é isso, Cumpade, peça o sinhô, que foi quem achou a lâmpada. ...

RUA GENERAL HERMES, 874

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Rua General Hermes, 874 ( 22 de janeiro de 2019) Parei, ocasionalmente, na frente da casa n.º 874 da Rua General Hermes, no Bom Parto. Na verdade, naquele trecho, sempre pairava dúvida se já era o Bom Parto ou ainda era a Cambona. Na minha cabeça a Cambona somente iria até o Sesi. No trecho onde começava a antiga Brandini sempre achei que já era Bom Parto mesmo. Esse detalhe, porém, não era para ter importância para mim, exceto pelo fato de que, a contragosto, teria sido obrigado com minha família a sair da casa em que morávamos na Cambona para irmos morar no endereço mencionado no bairro contíguo. Fomos "expulsos" por causa de um desmoronamento da barreira que limitava o pequeno quintal da casa da Gazeta de Alagoas. Vi, assustado, junto com minha mãe, o monte de barro e vegetação descer, em meio a chuva, e invadir a cozinha, fazendo com que todos tivéssemos de sair correndo para a rua, evitando algo pior. Não havia mais condições de se morar naquele lugar...