SEVERINO BARBEIRO
Severino Barbeiro
(18 de julho de 2019)
Sou careca. Ainda que tecnicamente não seja minha calvície considerada uma careca total, já estou acostumado a ser chamado de careca, seja por brincadeira, seja por maldade, ou mesmo pelo carinho dos amigos mais chegados que também, alguns deles, já o são. Isso não é, nunca foi e nunca será problema para mim. Ao contrário de meu pai, que sempre foi careca, pelo menos na minha visão. Desde criança que o enxergava careca e nunca o vi com a cabeleira que o envaidecia na juventude, exceto em fotos antigas. Para ele, a perda das madeixas foi um trauma. Até na velhice, ainda cultivava, sem muito sucesso, alguns fiozinhos que atravessavam de um lado para o outro, com o intuito de cobrir a calva. Não obstante ela, ia religiosamente ao barbeiro para "cortar" o cabelo e ajeitar o bigode todo mês.
Quando esteve pastoreando a igreja Assembléia de Deus em Paulo Jacinto, fazia esse serviço na barbearia do Severino, profissional bastante conhecido daquela cidade. Tanto ele (papai) quanto o padre local frequentavam o estabelecimento e, por isso mesmo, travaram boa amizade e sempre conversavam sobre assuntos eclesiásticos e diversos, mantendo um clima respeitoso, como convinha (e convém) aos cristãos.
Severino, no entanto, falava sobre tudo. Metia-se a comentar de futebol à política, de religião à economia, sempre com um linguajar rasteiro, com expressões que só ele mesmo entendia. Ao contar um acidente que sofrera, certo dia, terminou o relato assim:
- "o caba vinha caboba, purriba da moto e conde parô já foi matrupelando. Intonce eu dixe - Oxe, tá cego, gota serena? Inté hoje eu manco mode a queda"
O padre, lendo o jornal e ouvindo a conversa, comentou:
- Ô Severino, rapaz, você não fala uma frase que não tenha umas dez palavras erradas. Olhe, eu vou lhe dar cem cruzados se você disser duas palavras certas.
Severino, deu uma pausa no corte que estava fazendo, bateu a tesoura no pente, franziu a testa e disparou:
- Cuma é pade?!
(18 de julho de 2019)
Sou careca. Ainda que tecnicamente não seja minha calvície considerada uma careca total, já estou acostumado a ser chamado de careca, seja por brincadeira, seja por maldade, ou mesmo pelo carinho dos amigos mais chegados que também, alguns deles, já o são. Isso não é, nunca foi e nunca será problema para mim. Ao contrário de meu pai, que sempre foi careca, pelo menos na minha visão. Desde criança que o enxergava careca e nunca o vi com a cabeleira que o envaidecia na juventude, exceto em fotos antigas. Para ele, a perda das madeixas foi um trauma. Até na velhice, ainda cultivava, sem muito sucesso, alguns fiozinhos que atravessavam de um lado para o outro, com o intuito de cobrir a calva. Não obstante ela, ia religiosamente ao barbeiro para "cortar" o cabelo e ajeitar o bigode todo mês.
Quando esteve pastoreando a igreja Assembléia de Deus em Paulo Jacinto, fazia esse serviço na barbearia do Severino, profissional bastante conhecido daquela cidade. Tanto ele (papai) quanto o padre local frequentavam o estabelecimento e, por isso mesmo, travaram boa amizade e sempre conversavam sobre assuntos eclesiásticos e diversos, mantendo um clima respeitoso, como convinha (e convém) aos cristãos.
Severino, no entanto, falava sobre tudo. Metia-se a comentar de futebol à política, de religião à economia, sempre com um linguajar rasteiro, com expressões que só ele mesmo entendia. Ao contar um acidente que sofrera, certo dia, terminou o relato assim:
- "o caba vinha caboba, purriba da moto e conde parô já foi matrupelando. Intonce eu dixe - Oxe, tá cego, gota serena? Inté hoje eu manco mode a queda"
O padre, lendo o jornal e ouvindo a conversa, comentou:
- Ô Severino, rapaz, você não fala uma frase que não tenha umas dez palavras erradas. Olhe, eu vou lhe dar cem cruzados se você disser duas palavras certas.
Severino, deu uma pausa no corte que estava fazendo, bateu a tesoura no pente, franziu a testa e disparou:
- Cuma é pade?!
Comentários
Postar um comentário